Oigalê entra em cena no Brique da Redenção

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Manhã atípica de domingo, 26, no Parque da Redenção.

O Primeiro Festival de Teatro de Rua de Porto Alegre, depois de invadir o centro e os bairros, ali ia se instalando.
Os artistas se preparavam frente ao público e criavam seu cenário. Pernas de pau, escadas, gaita, maquiagens e roupas extravagantes.
Chamavam o público para o espetáculo. “Não mordemos! Chega Mais! Pode sentar aqui pertinho! Senta aqui no chão que hoje é domingo e dá pra lavar a roupa! Quem não sentar agora vai perder lugar na primeira fila! É de graça!”

Às 10 horas da manhã, o Grupo de Teatro porto alegrense Oigalê entrava em cena apresentando uma peça irreverente. A separação do palco com o público era feita com um simples traçado, feito de erva mate, no chão arenoso do parque. Uma livre adaptação do livro “Dom Segundo Sombra”, considerado um dos maiores clássicos da literatura Argentina e latino-americana, escrito por Ricardo Guiraldes e lançado em 1926. A adaptação chama-se “Deus e o Diabo na Terra de Miséria”, de 1999, com duração de 50 min, apresentada por Giancarlo Carlomagno, Hamilton Leite, Ilson Fonseca, Janaina Melo e Vera Parenza.

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Sinopse da peça

“Uma farsa gaudéria resultado da pesquisa da Oigalê sobre o universo da cultura “gaúcha”. Resgata a figura do contador de causos através do teatro derua, buscando referências na literatura de Simões Lopes Neto e na literatura oral de causos. Utiliza a técnica da perna de pau e a execução da trilha sonora pelos próprios atores. Certo dia Miséria, um gaúcho dono de uma ferraria, recebe a visita de Nosso Senhor e São pedro. Pelos serviços prestados é agraciado com três pedidos. Não acreditando nas graças concedidas, vende sua alma ao Diabo em troca de boa vida. Após muitos anos de fartura, resolve descansar. Só que por desdenhar de São pedro e enganar os diabos, acaba não entrando nem no ceú e nem no inferno. Desde então, se diz que a miséria ficou vagando pelo mundo. ” – sinopse distribuída pelo grupo após a apresentação.

A platéia

Quase uma hora de teatro. As pessoas não pareciam se importar em ficar de pé ou sentados no chão. Os olhos atentos acompanhavam os movimentos dos artistas, que se infiltravam no público, sumiam por de trás dos espectadores e logo retomavam a posição central no “palco”.

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Em entrevista concedida ao blog ThingsMag, Amir Haddad, palestrante do Festival, afirma que o 1° Festival de Teatro de Rua de Porto Alegre é um registro artístico pertinente no que diz respeito ao questionamento crítico feito sobre a interpretação do teatro de rua e suas relações com a sociedade real. “Sob a graça delicada e as convenções do teatro contemporâneo há uma descrição quase etnográfica da vida social da cidade. A complexa produção cênica do teatro de rua é também a representação ficcional da memória coletiva de um povo”, diz.

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O teatro de rua

Uma das artistas do grupo Oigalê, Vera Parenza, revela que o festival é uma retomada à Idade Média na Europa, onde o teatro já era encenado nas ruas, mesmo que fosse considerado profano e proibido. Segundo ela, a idéia de levar o teatro para rua é um ato significativo, uma vez que o surgimento do teatro deu-se de forma semelhante. “A origem do teatro é na rua. No século XV a.C, as apresentações teatrais eram em forma de manifestações religiosas. O primeiro exemplo disso foram as encenações ao Deus do vinho, Dionísio, e eram representadas ao ar livre”, resgata Vera.

Assista um pouco do Oigalê aqui

Veja mais fotos no Flickr do Cportoalegrando

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