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Oigalê entra em cena no Brique da Redenção

abril 29, 2009

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Manhã atípica de domingo, 26, no Parque da Redenção.

O Primeiro Festival de Teatro de Rua de Porto Alegre, depois de invadir o centro e os bairros, ali ia se instalando.
Os artistas se preparavam frente ao público e criavam seu cenário. Pernas de pau, escadas, gaita, maquiagens e roupas extravagantes.
Chamavam o público para o espetáculo. “Não mordemos! Chega Mais! Pode sentar aqui pertinho! Senta aqui no chão que hoje é domingo e dá pra lavar a roupa! Quem não sentar agora vai perder lugar na primeira fila! É de graça!”

Às 10 horas da manhã, o Grupo de Teatro porto alegrense Oigalê entrava em cena apresentando uma peça irreverente. A separação do palco com o público era feita com um simples traçado, feito de erva mate, no chão arenoso do parque. Uma livre adaptação do livro “Dom Segundo Sombra”, considerado um dos maiores clássicos da literatura Argentina e latino-americana, escrito por Ricardo Guiraldes e lançado em 1926. A adaptação chama-se “Deus e o Diabo na Terra de Miséria”, de 1999, com duração de 50 min, apresentada por Giancarlo Carlomagno, Hamilton Leite, Ilson Fonseca, Janaina Melo e Vera Parenza.

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Sinopse da peça

“Uma farsa gaudéria resultado da pesquisa da Oigalê sobre o universo da cultura “gaúcha”. Resgata a figura do contador de causos através do teatro derua, buscando referências na literatura de Simões Lopes Neto e na literatura oral de causos. Utiliza a técnica da perna de pau e a execução da trilha sonora pelos próprios atores. Certo dia Miséria, um gaúcho dono de uma ferraria, recebe a visita de Nosso Senhor e São pedro. Pelos serviços prestados é agraciado com três pedidos. Não acreditando nas graças concedidas, vende sua alma ao Diabo em troca de boa vida. Após muitos anos de fartura, resolve descansar. Só que por desdenhar de São pedro e enganar os diabos, acaba não entrando nem no ceú e nem no inferno. Desde então, se diz que a miséria ficou vagando pelo mundo. ” – sinopse distribuída pelo grupo após a apresentação.

A platéia

Quase uma hora de teatro. As pessoas não pareciam se importar em ficar de pé ou sentados no chão. Os olhos atentos acompanhavam os movimentos dos artistas, que se infiltravam no público, sumiam por de trás dos espectadores e logo retomavam a posição central no “palco”.

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Em entrevista concedida ao blog ThingsMag, Amir Haddad, palestrante do Festival, afirma que o 1° Festival de Teatro de Rua de Porto Alegre é um registro artístico pertinente no que diz respeito ao questionamento crítico feito sobre a interpretação do teatro de rua e suas relações com a sociedade real. “Sob a graça delicada e as convenções do teatro contemporâneo há uma descrição quase etnográfica da vida social da cidade. A complexa produção cênica do teatro de rua é também a representação ficcional da memória coletiva de um povo”, diz.

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O teatro de rua

Uma das artistas do grupo Oigalê, Vera Parenza, revela que o festival é uma retomada à Idade Média na Europa, onde o teatro já era encenado nas ruas, mesmo que fosse considerado profano e proibido. Segundo ela, a idéia de levar o teatro para rua é um ato significativo, uma vez que o surgimento do teatro deu-se de forma semelhante. “A origem do teatro é na rua. No século XV a.C, as apresentações teatrais eram em forma de manifestações religiosas. O primeiro exemplo disso foram as encenações ao Deus do vinho, Dionísio, e eram representadas ao ar livre”, resgata Vera.

Assista um pouco do Oigalê aqui

Veja mais fotos no Flickr do Cportoalegrando

1º Festival de Teatro de Rua começa hoje

abril 23, 2009

O 1º Festival de Teatro de Rua de Porto Alegre inicia hoje, 23, no Centro da cidade. Após dias de atividades de formação, ministradas pela Coordenação de Artes Cênicas, da Secretaria Municipal da Cultura (SMC), a partir das 16h30 de hoje, ao longo da Rua dos Andradas, cinco peças serão encenadas simultaneamente por diferentes grupos de teatro. Uma parceria estabelecida entre a prefeitura da Capital e o grupo teatral Falos & Stercus, com patrocínio da Caixa Econômica Federal possibilitou a realização do evento.

Depois da série de apresentações, todos os participantes se juntarão ao cortejo Abre-Alas, resultado de uma oficina realizada pelo grupo Lume, de São Paulo, ao longo da semana. O trajeto, que percorrerá a Rua dos Andradas, será finalizado com a apresentação de estréia do Circus Negro, um espetáculo de rua em trânsito, com o ÁQUIS (núcleo de estudo sobre os processos de criação artística de Florianópolis – SC).

Confira a programação do 1º Festival de Rua

Quinta-feira – 23 de abril

16h30O Amargo Santo da Purificação (Tribo dos Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz), na Praça da Alfândega;

17hMithologias do Clã (Falos & Stercus), na Esquina Democrática;

Miséria – Servidor dos Estancieiros (Oigalê Cooperativa de Artistas Teatrais), na esquina com a rua Uruguai;

A Mulher que Comeu o Mundo (Usina do Trabalho do Ator – UTA), em frente ao Centro Cultural Erico Veríssimo;

O Mundo Tá Virado (Grupo Imbuaça – Aracaju- SE), em frente ao shopping Rua da Praia

Agora a Usina é das Artes

abril 16, 2009

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A entrevista com o diretor teatral e coordenador do projeto Usina das Artes, Caco Coelho, apresenta a lógica do trabalho cultural lá desenvolvido e o universo que engloba esse projeto, que pode ser considerado um dos pioneiros no Brasil.

Por que a usina?

Caco: “A Usina do Gasômetro era uma espécie de elefante branco da cidade. O porto-alegrense busca sua identidade. Assim, o prédio antes sem vida, agora, proporciona um ambiente para essa busca”.
O “espaço morto”, localizado na área central da capital, torna-se um símbolo para a cidade e fomenta a busca pela identificação entre as tribos. Várias empresas e patrocinadores colaboraram com o projeto por apostar na idéia. O prefeito de Porto Alegre, José Fogaça, é um dos grandes incentivadores.

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Como funciona a Usina das Artes?

Caco: “A ideia é a de uma arte continuada que desenvolva uma linguagem de comunicação e de identidade”.
Para isso, segundo o edital * do Processo Seletivo 04//2008 – 1.049659.08.1 para ocupação de espaços na Usina do Gasômetro, poderão participar do projeto Usina das Artes os grupos que tenham realizado suas atividades de natureza artístico-cultural, em Porto Alegre, de forma ininterrupta, nos três últimos anos, comprovadas mediante apresentação de folderes de divulgação, programas de peças, reportagens de jornais, etc. Cada grupo inscrito deverá apresentar um plano de trabalho, nomear um representante e deverá apresentar um número mínimo de 40 atividades durante o ano.

*Cedido pela diretoria da Usina das Artes. Exemplar do ultimo processo seletivo, não disponível eletronicamente pela Usina. Para maiores informações sobre o próximo processo, falar diretamente com a diretoria pelo fone 32898102, ou diretamente no local.

Caco salientou a movimentação crescente de público na usina em função da, também crescente, produção artística e interesse dos grupos que ali se instalam encontrando ambiente propício para se desenvolver. Desde 2005, quando a Usina das Artes foi lançada, mais de sete mil atividades abertas ao público já foram realizadas. E, por ano, estima-se a circulação de 1 milhão de espectadores.

Cultura e Arte

Caco: “Cultura e Arte são coisas diferentes”.
A cultura é o todo. São os alimentos, os hábitos, o trânsito e tudo o que faz o homem interagir. A Arte, sendo percebida, passa a ser um elemento cultural, pois é capaz de comunicar algo, tem a função de ampliar as fronteiras da sociedade. Desta forma, cria-se um conceito de humanidade. É necessário que o “eu” crie um conceito, entretanto, mais importante será a identificação do outro com tal para que este conceito exista de fato. Trata-se do homem reconhecendo o homem.

O Uno X O Alheio

Caco: “Antes do ser “eu” existe o ser “tu” ”.
A Grécia da antiguidade ajudou a configurar o pensamento e o modo de vida ocidental. Atenienses vencem os persas e o embate é representado posteriormente nos palcos pelos vitoriosos, incorporando a posição dos derrotados. Ésquilo nasce numa família nobre ateniense e luta contra os persas. Segundo Aristóteles, é o criador da tragédia grega. Nasce o teatro com a percepção da dor do outro. Esta foi a primeira peça escrita que chega ao conhecimento humano. O conceito de humanidade se apoia, então, na percepção do homem pelo homem no memento em que se importa com o próximo.

A procura da identidade

Caco: “O princípio da arte e do ser humano é o encontro e a identificação com o outro”.
Vivemos em uma época em que a falta de modelos culturais próprios e a não identificação com os propostos ou importados causam um vazio na identidade das pessoas. Países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos, por exemplo, acabam incorporando culturas externas, muitas vezes impostas pelo ritmo da globalização, que não condizem com sua realidade histórico- cultural. Isso causa o sentimento de não pertencimento à determinada tribo. Podemos assim citar o Norte-americanismo, que além de invadir o padrão ocidental, atualmente tem atingido diretamente o modo de vida oriental. A cultura de massa e o american way of life, apesar de incorporados, nem sempre saciam a carência da identidade pessoal. Adota-se um modelo como único, entretanto há impossibilidade de identificá-lo em si.


O diretor, a Usina e as artes ganham espaço entre os meios de comunicação. Em parceria com o jornal Correio do Povo, a agenda das atividades, e as “Crônicas da Cena”, semanalmente escritas por Caco, são veiculadas na sessão Arte & Agenda. Vale a pena conferir.

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Plus! Música!
Em homenagem às atividades da usina, a banda Perturbadores, de Porto Alegre, compôs um música que contempla as artes e movimentos do espaço. João Coimbra, estudante de Jornalismo da UFRGS, guitarrista e vocalista da banda, além de integrante da assessoria de imprensa da Usina das Artes, indicou o link para quem se interessar: Perturbadores no Trama Virtual

Parada de Teatro e Projeto Usina da Arte

abril 1, 2009

Primeira parada de Teatro do Rio Grande do Sul

Para marcar a passagem do dia internacional do teatro, comemorado em 27 de março, teatreiros de diversos lugares da Capital reuniram-se para participar da 1ª Parada de Teatro o Rio Grande do Sul no domingo, 29. Desde a partida, no Largo Zumbi dos Palmares, na Cidade Baixa, até a chegada do percurso, no Monumento ao Expedicionário, localizado no Parque da Redenção, a festa permaneceu animada. Uma parceria com a bateria da escola de samba Bambas da Orgia agitou ainda mais o evento.

Os artistas, cobertos de adereços e alegorias que representavam, de alguma forma, o grupo ao qual pertencem, aproveitaram a oportunidade para divulgar a campanha “Ponha mais teatro no seu cardápio”, uma proposta que pretende aumentar o público dos teatros e o prestigio às artes cênicas.

Lucila Clemente, estudante de Teatro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e integrante do grupo teatral Caixa Preta, revela que a parada foi uma maneira importante de expor o trabalho da classe. “O teatro existe, e nós artistas estamos aqui, unidos e prontos para mostrar nosso trabalho”.

Aqui você pode conferir algumas fotos da movimentação

Fotos por Ferraz de Souza

Galeria de Under Vianna

Farra de teatro por Kiran

e alguns vídeos

Os reflexos dessa parada ainda estão por vir. Durante as próximas semanas entraremos em contato com o pessoal que participou diretamente da manifestação. Afinal, são artistas, com capacidade de enxergar o mundo com outros olhos e de lançar novas propostas. Temos o objetivo de compreender o significado de uma “farra teatral” em sua essência.

Começamos a entender um pouco sobre essa “essência” no momento em que nos conectamos a uma comunidade virtual de Teatro em Porto Alegre.  O primeiro tópico de discussão relacionava-se à aprovação do Projeto Usina das Artes. Às 14 horas do dia 1 de abril de 2009, iniciaria a votação na Câmara dos Vereadores.

Há quatro anos o espaço da Usina do Gasômetro era cedido a grupos, entretanto nada oficializado.  Hoje os artistas formaram a platéia, e com o plenário lotado, 34 vereadores responderam um caloroso “sim” à aprovação do projeto, oficializando com unanimidade o local como uma reserva destinada à cultura de Porto Alegre. Os discursos salientavam ainda que além da Usina, outras construções públicas da cidade, muitas delas abandonadas, deveriam ser reativadas como pólos de desenvolvimento deste tipo de atividade artística e educacional. A vereadora Fernanda Melchionna e Silva instigou ainda uma mobilização da platéia para um novo projeto: “Salve o Araújo Viana”, alertando sobre a privatização do mesmo.

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Às 17 horas, após encerramento da votação, muitos aplausos foram ouvidos. Um grupo de senhoras segurava uma faixa “Amigos da Arte com você na festa”. São participantes do Grupo Vocal Amigos da Arte, e se empenham em trabalhar com teatro, música e dança na terceira idade. Cheias de vigor, convidaram para sua confraternização de todas segundas-feiras. Dia 6 de abril de 2009, às 14 horas, na sala 400 da Usina das Artes do gasômetro, haverá um espaço de poesia e de contos. É o chamado “Encontro dos amigos”.

A tarde de hoje encerrou com um bate-papo com o Diretor da Usina do Gasômetro, Caco Coelho. Não quis responder pontualmente à nossa entrevista. Falou que o mais importante não seriam suas respostas, mas que entendêssemos o sentido e o conceito da arte que ali estava sendo proposto. Acrescentou que por estarmos dentro da academia de comunicação, esse projeto deveria servir não como objeto pontual de estudo, mas como algo a ser utilizado como parâmetro e uma idéia a ser disseminada, e transmitida às pessoas.

No próximo post, uma entrevista com Caco Coelho e a atmosfera que envolve o dia-a-dia da usina.